Hair, Dzzy Croquetes, Secos e Molhados, Mutantes, Roda Viva, Zé Celso, espocavam de vez em quando nessas paragens sulinas e nos davam uma vaga idéia do que ocorria no resto do mundo. Era um tempo de TV preto e branco com válvula e calças boca de sino. Viajar de avião era uma coisa tão impressionante que quando uma pessoa voltava da Europa, dava entrevista na televisão.
O segundo espetáculo que fiz, em l981, Yerma de Lorca (direção de Décio Antunes e Nair D’Agostini), tinha uma forte caracterização. A diretora que havia estudado na União Soviética, trouxe uns kits com sombras, bases e batons. Foi uma festa. Pouco tempo depois veio Rasga Coração de Vianinha (direção de Néstor Monastério). A trama da peça se passa nos anos trinta e setenta e exige dos seus atores grande versatilidade e agilidade, pois são quase sempre os mesmos, jovens e velhos nas duas épocas, ou como filhos e netos. O que nos obrigava a trocar constantemente de figurino e maquiagem durante as apresentações, num fascinante jogo de tipos humanos que cobre quarenta anos de história do Brasil. Além de ser um grande sucesso de público, foi meu primeiro contato com maquiagem, cabelos e caracterização no mundo do teatro no qual eu já estava enterrado até a raiz dos caracóis dos meus cabelos.
Mas foi quando encarei a caracterização de A Mãe da Miss e o Pai do Punk de Luiz Arthur Nunes que me vi pesquisando sobre o assunto. A peça era uma colagem de esquetes e os atores trocavam de figurino e personagens em cena aos olhos do público. Criei um visual que misturava cabaret alemão dos anos trinta com umas referências meio Almodóvar que o Alziro Azevedo havia dado aos figurinos.
Walter Costa, então dono do SCALP, o salão mais descolado e moderno que se tem notícia até hoje, prestou atenção e me convidou para trabalhar com ele. Convite feito, convite aceito. Fomos para São Paulo para um curso e compras, onde ele me presenteou com uma Tondeo (finíssima tesoura alemã de corte preciso e delicado, que uso até hoje). De volta a Porto Alegre era só colocar a mão na massa. E por massa entenda-se toda aquela loucura que era os anos oitenta, com seus modismos e maneirismos.
Daí para os bastidores de desfiles, TV, ensaios fotográficos foi um pulo. De uma forma que hoje não vejo grande diferença entre um lado ou outro do palco.
Caracterizar filmes como Au Revoir Shirley de Gilberto Perin, ou espetáculos como Babel Genet de Humberto Vieira ou A Comédia dos Erros de Adriane Motola é tão fascinante quanto construir um personagem como o Avarento.
Uma caracterização mais elaborada e efêmera como a que ocorre no palco para mim tem o mesmo encanto e desafio que tem meu cotidiano como cabeleireiro no Thippos.
Sempre há objetivos a alcançar, expectativas e resultados, como por exemplo, o próximo trabalho que faremos com o fotógrafo Jorge Scherer e sua equipe.